domingo, 29 de setembro de 2013

“Safra do fogo”: julho e agosto apresentam maior número de focos de incêndio

Por Valéria da Costa

O fogo é um método barato e prático utilizado pelos agricultores para limpar propriedades, deixando-as aptas ao plantio, este procedimento é chamado de ‘queima agrícola’. Porém, na maioria das vezes, o autor da queimada perde o controle sobre o fogo e este se alastra. Assim a queimada se torna um incêndio e causa grandes danos não só na propriedade em que se originou como em propriedades vizinhas.

Segundo dados do Corpo de Bombeiros Militar de Vilhena, nos meses de Julho e Agosto a quantidade de focos de incêndio aumenta em mais que o dobro registrado em todos os outros meses do ano. O número de ocorrências atingiu 25 no mês de julho deste ano, que se somadas às 56 já registradas em agosto, superam os números de todos os outros meses do ano.

De acordo com o tenente Claudevan Reis de Carvalho Guimarães Júnior, grande parte das ocorrências atendidas pela instituição é de incêndios provocados pelos próprios proprietários das terras que, por imprudência ou falta de informação, ateiam fogo em seus plantios e não conseguem controlá-lo. A prática dos agricultores aliada às condições climáticas do período, como a baixa umidade relativa do ar, clima quente e abafado, falta de chuva e muito vento, ocasionam uma destruição ainda maior na vegetação.

Segundo o tenente Claudevan Reis, o vento faz com que o fogo se espalhe mais rápido, atingindo as propriedades vizinhas e dificultando o controle por parte da equipe do Corpo de Bombeiros. O tenente Reis ressalta ainda que, os incêndios acabam prejudicando a população urbana, uma vez que, ao deslocar equipes para combater o fogo em propriedades rurais, o perímetro urbano fica com pouco efetivo para atendimento das ocorrências. Segundo ele, o Corpo de Bombeiros Militar de Vilhena não está adequadamente equipado para o combate ao fogo, uma vez que possui apenas uma viatura equipada com bomba d’água, sendo que esta possui capacidade para 400 litros de água. Além da viatura, o combate e controle do fogo são feito através de trabalho braçal dos bombeiros, atuando com abafadores. “Às vezes é preciso pedir ajuda de outros órgãos que possuem caminhões capazes de transportar água, para dar conta do serviço”, complementa Reis.

Segundo a sargento Eliza Gonçalves, o Corpo de Bombeiros Militar em parceria com a Secretaria de Estado do Desenvolvimento ambiental, Sedam, Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária, Incra, Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis, Ibama, Agência de Defesa Sanitária Agrossilvopastoril do Estado de Rondônia, Idaron, Ministério Público e outros órgãos públicos,
promovem, desde 2010 a campanha “Queimadas, um mal desnecessário - não deixe que esse mal destrua nossas florestas”. A campanha tem por objetivo conscientizar os agricultores acerca dos riscos das queimadas e alertá-los sobre as penas impostas aos responsáveis por incêndios. Eliza informa que a campanha tem ajudado a reduzir os casos de incêndios, uma vez que, se comparados os meses de julho e agosto de 2013 com o mesmo período do ano passado, os números apresentam uma leve queda. Porém,
segundo ela, não é o suficiente, já que, mesmo tendo diminuído, os números ainda são alarmantes.

Limpar área - O uso de fogo para limpar e preparar o solo é bastante utilizado na região de Vilhena, principalmente pelos agricultores com menos recursos financeiros. Porém, os prejuízos ao solo, sistema fluvial e outros recursos naturais são inevitáveis com esta prática. É o que esclarece o engenheiro florestal da Sedam, José Trindade Lobato. “Os agricultores se valem desta prática para trazer benefícios à suas propriedades, mas acabam tendo prejuízos”. José esclarece que, de acordo com a portaria 152 e
211/Sedam, toda queimada realizada sem a autorização da Sedam é considerada criminosa, por mais que não traga maiores danos.

Quando um agricultor deseja realizar uma queimada em sua propriedade, é necessário comunicar a Sedam, que envia profissionais ao local para análise da área e instruções ao agricultor para que este faça aceiros e tome as medidas mitigadoras, esta é a chamada ‘queimada autorizada’. Porém, José alerta para o fato de que, mesmo a queimada sendo autorizada pela Sedam, o agricultor está sujeito às penas previstas na
lei 4.771/65, caso a queimada fuja ao controle. As multas para quem realizar queimada ilegal chega até R$1.000,00 por hectare.

Luiz Silva Gomes, diretor de Gestão Ambiental da Sedam, alerta também para o risco de atear fogo nas propriedades, em virtude do baixo índice pluvial e clima seco, o que favorece o alastramento do fogo, podendo atingir mata nativa. Segundo ele, só em mata nativa foram registrados, nos meses de julho e agosto, dois incêndios criminosos. Luiz informa que a área atingida ainda está sendo quantificada e o caso sendo investigado para posterior punição dos autores do crime ambiental.

O diretor da Sedam, Luiz, destaca o sucesso da campanha realizada em parceria com outros órgãos, inclusive o Corpo de Bombeiros. Informa que, desde que a campanha iniciou em 2010, os registros anuais de incêndio tiveram uma queda significativa. Luiz não esconde o otimismo e espera que nos próximos anos os números diminuam. Para tanto, conta com a parceria, não só de órgãos públicos, mas da própria população, no sentido de se conscientizarem dos riscos e prejuízos que o fogo pode trazer de um modo geral.


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